Conselheiro da SOBRAMH está na linha de frente desse enfrentamento e conta como manter o equilíbrio em meio à pandemia
Há duas semanas sem poder ver a noiva, o médico Marcos Laranjeira está na linha de frente no combate ao novo coronavírus. Coordenador da Linha Clínica do Hospital do Subúrbio, em Salvador (BA), ele também é preceptor do programa de Clínica Médica na instituição e faz parte do Conselho da Sociedade Brasileira de Medicina Hospitalar (SOBRAMH). É com a mãe, também médica, o único contato familiar possível em tempos de isolamento social e devido à profissão exercida. E como enfrentar essa nova realidade com equilíbrio, em meio à pandemia? De acordo com ele “é exatamente pela informação que poderemos garantir a tranquilidade necessária para o enfrentamento desse momento”.
Para Laranjeira, a manutenção de hábitos saudáveis também contribui para o bom funcionamento da mente e corpo, como uma alimentação equilibrada e atividade física. “Estamos na fase de ascensão da infecção e devemos agora preservar o máximo da nossa saúde física e mental, pois as principais batalhas ainda estão por vir”, reforça. E nesse processo de manter o foco na assistência, ele afirma que as homenagens da população aos profissionais da saúde têm tido um papel fundamental. “Uma salva de palmas no final do dia, acalenta, dignifica e faz muito bem a todos os envolvidos no combate direto à crise”, reconhece.
Medicina Hospitalar
O médico hospitalista afirma que os conhecimentos de quem atua junto ao modelo de Medicina Hospitalar têm sido um diferencial. Otimização de fluxos e processos já fazem parte da rotina desses profissionais e se destacam perante ao aumento expressivo do número de pacientes nas instituições. Segundo Laranjeira, “o poder do gerenciamento clínico é fundamental nesse momento e ninguém melhor que o hospitalista para a administração dessa demanda”.
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SOBRAMH – O aumento da demanda de paciente de forma exponencial, falta de leitos e de equipamentos e a exposição ao vírus. Como evitar os danos à saúde mental de quem está na linha de frente no combate à doença?
Marcos Laranjeira – Estou hoje como coordenador da Linha de Clínica Médica do Hospital do Subúrbio e Conselheiro da SOBRAMH. Lá, estamos implementando cerca de 120 leitos de UTI para a realização dos atendimentos às vítimas do novo COVID-19. No momento, enfrentamos um período de mudança e adaptação a uma nova realidade e brinco em dizer que qualquer informação com prazo maior que 48 horas é antiga… Porém, considero que é exatamente pela informação que poderemos garantir a tranquilidade necessária para o enfrentamento desse momento. Tentamos, então no Hospital do Subúrbio, garantir o máximo de amparo aos nossos colaboradores, estando sempre atentos aos casos suspeitos, garantindo brevidade na avaliação da equipe de Infectologia, quando necessário, e disponibilizando materiais e protocolos para garantir a segurança de nossos funcionários. Mas recomendamos, também, uma rotina de exercícios e hábitos alimentares saudáveis para a manutenção do bom funcionamento psíquico e físico do profissional. O confinamento não pode ser desculpa para faltar com os exercícios.
SOBRAMH – De que maneira os profissionais devem lidar com a pressão dos últimos dias e dos que ainda estão por vir?
ML – Segundo as análises mais recentes e boletins epidemiológicos disponibilizados, estamos ainda na fase de ascensão da infecção. O comportamento do vírus em regiões tropicais ainda gera muitas incertezas e a sensação de que navegamos em um mar de dúvidas. Considero esse período de preparação fundamental para o combate da crise. Devemos agora preservar o máximo da nossa saúde física e mental, pois as principais batalhas ainda estão por vir. Apesar de esperar essa piora do número de infectados e demanda crescente dos dispositivos de saúde, já muito demandados, fico feliz em poder constatar que estamos juntos como cidadãos, conseguindo o implemento de grandes mudanças para esta preparação. Acho que essa é a melhor maneira de nos mantermos serenos para o que está por vir. Reconhecer as conquistas, o envolvimento e o esforço da população nessa fase de preparação como o melhor ato de doação, necessário para o que estamos enfrentando.
“É uma pressão enorme. Uma salva de palmas no final do dia, acalenta, dignifica e faz muito bem a todos os envolvidos no combate direto à crise”
SOBRAMH – Muitos profissionais optaram por evitar o contato com a família, para não expor quem se ama ao contágio. Como driblar esse afastamento?
ML – Eu mesmo sou um deles. Há cerca de duas semanas estou distante de minha querida companheira, minha noiva Marilia. Da minha família só mantenho contato mais próximo com minha mãe, que também é médica. Temos enfrentado isso tentando manter sempre o bom humor, conectados por meio das nossas mídias sociais e fazendo reuniões virtuais sempre que possível. Tenho incentivado também o contato, com distância mínima recomendada de dois metros, com os colegas de trabalho fora do ambiente hospitalar. Respeitando-se regras básicas é uma boa maneira de se estreitar os laços para passarmos com mais facilidade por esses momentos de dificuldade.
SOBRAMH – A população do mundo e também do Brasil tem feito homenagens aos profissionais de saúde. Como isso influencia no trabalho das equipes?
ML – Vejo essas homenagens com muito entusiasmo. Considero que nossa profissão passou por muitos momentos em que foi desvalorizada e desacreditada. Nessa hora de crise, acho que estamos recuperando um pouco do sentido da Medicina. Do ato vocacional de servir ao próximo, estar presente quando mais se necessita. É uma pressão enorme. Uma salva de palmas no final do dia, acalenta, dignifica e faz muito bem a todos os envolvidos no combate direto à crise.
SOBRAMH – O médico hospitalista tem um papel diferenciado na gestão e na assistência. Nesse momento de pandemia, qual a importância do hospitalista nas instituições?
ML – O poder do gerenciamento clínico é fundamental nesse momento e ninguém melhor que o hospitalista para a administração dessa demanda. Precisaremos otimizar ainda mais as decisões e garantir uma maior eficiência para o uso dos novos e velhos recursos, que estarão em alta demanda. Vejo que a especialidade tem a expertise necessária para uma grande contribuição neste cenário.