Andrés Aizman afirma que o médico hospitalista tem função estratégica no enfrentamento à pandemia
Atualizado em 09/7/2020
O conselheiro internacional da Sociedade Brasileira de Medicina Hospitalar (SOBRAHM), o chileno Andrés Aizman, falou um pouco sobre a situação da Covid-19, no país. Ele atua no Hospital Clínico da Universidad Católica de Chile, em Santiago, e é chefe do programa de residência de Medicina Interna, na instituição de ensino. Andrés também é um dos precursores da implementação da Medicina Hospitalar no país e reforça a qualificação do hospitalista em meio à crise mundial na saúde. “Conhecer o funcionamento do hospital o coloca em uma posição estratégica”, afirma o médico. De acordo com ele, o hospitalista é fundamental no atendimento protocolado e na elaboração de métodos para o enfrentamento à pandemia.
Atual cenário
Apesar da pandemia do novo coronavírus crescer a cada dia na América Latina, o Chile é um dos países que registra o menor número de mortes, com 200 óbitos até agora. O país tem uma população de cerca de 19 milhões de habitantes e contabiliza 14 mil casos da doença. Para Andrés, isso se deve às medidas antecipadas de isolamento social, definidas pelo governo. Mas ele ressalta que o cenário pode mudar: “os primeiros casos ocorreram em grupos socioeconômicos elevados e agora começam a aparecer em locais de maior superlotação e que dependem de sistemas de saúde com menos recursos.”
A SOBRAMH conversou com Andrés para saber mais sobre o novo coranvírus, no Chile. Confira a entrevista!
SOBRAMH – Como está a situação no Chile, em relação à pandemia da Covid-19? Temos relatos de que o Chile possui uma realidade não muito crítica de casos e mortes. Que fatores podem explicar isso?
Andre Aizman – Até agora, a incidência de novos casos teve um crescimento linear e não exponencial como esperávamos. Isso provavelmente deve-se pelo acompanhamento do que aconteceu primeiro em outros países, como Itália e Espanha, o que permitiu o estabelecimento precoce de medidas de quarentena. No entanto é importante mencionar que os primeiros casos ocorreram em grupos socioeconômicos elevados, com condições de vida privilegiadas e fácil acesso aos sistemas privados de saúde. Os casos agora começam a aparecer em locais de maior superlotação e que dependem de sistemas de saúde com menos recursos. Veremos como o vírus se espalha neste novo cenário.
S – Como o hospital se preparou para esse momento?
AA – Nosso hospital mudou muito a forma como funciona. Todas as consultas e cirurgias eletivas foram interrompidas. O número de leitos de cuidados intensivos e intermediários é muito maior. O fluxo especial estava disponível para pacientes COVID19 (+), com setores e caminhos de mobilização em raios de atendimento ou enfermarias exclusivas. Os profissionais de saúde foram organizados em equipes on-off, trabalhando intermitentemente para prevenir contágios em massa, que colocam em risco a continuidade do cuidado de nossos pacientes.
S – Qual a importância hoje o médico hospitalista para adaptar processos, rotinas e outros no tratamento do Covid-19?
AA – O hospitalista desempenha um papel fundamental, tanto no atendimento protocolado desses pacientes, quanto na elaboração de estratégias que permitam à instituição lidar melhor com a pandemia. Conhecer o funcionamento do hospital o coloca em uma posição estratégica para isso.
S – Que prognósticos você tem em relação à evolução da pandemia no Chile, nas próximas semanas?
AA – Acredito que o surgimento de casos em áreas de maior superlotação e a gradual flexibilização das medidas de afastamento social, em grande parte determinadas pela pressão econômica, levarão a um aumento significativo dos casos. Espero que esse aumento não exceda nossa capacidade de resposta e que não tenhamos que decidir qual paciente deverá ir para a UTI por razões diferentes da proporcionalidade terapêutica.