Terceira live da SOBRAMH contou com a participação de gestores de Salvador e Goiânia
A terceira edição da live realizada pela Sociedade Brasileira de Medicina Hospitalar (SOBRAMH) trouxe ao debate o desafio de planejar, montar e colocar em funcionamento os hospitais de campanha, uma importante arma no combate à Covid-19. Na última terça-feira (9), o diretor técnico do Hospital do Subúrbio (Salvador/BA), Rogério Luís Palmeira da Silva, e o diretor-geral do Hospital de Campanha de Goiânia (GO), Guillermo Sócrates, contaram, ao vivo, como tem sido essa experiência. A iniciativa foi transmitida pelo canal da Sociedade, no YouTube. Hoje, estima-se que mais de 100 hospitais de campanha estejam em ação, instalados nos mais diferentes locais do Brasil, como estádios, estacionamentos, aeroclubes e até mesmo complexo penitenciário.
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A live foi conduzida pelo presidente da SOBRAMH, André Wajner. O hospitalista buscou saber dos convidados aspectos profissionais e pessoais sobre o que representa ser o gestor dessas unidades, em meio à pandemia. “Certamente está sendo muito gratificante poder contar com a participação de profissionais tão qualificados, pois a informação é a melhor arma contra uma doença de extremas incertezas no campo do diagnóstico, tratamento e prognóstico”, destaca Wajner.
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AS ADVERSIDADES
De acordo com o médico Rogério Palmeira, que também é diretor científico da Sociedade, estar à frente de um hospital de campanha representa enfrentar as mais diversas adversidades. Isso porque a unidade em que atua foi construída no estacionamento do Hospital do Subúrbio, na capital da Bahia, e foi preciso superar desde a localização do terreno em área alagadiça até ventos de 60 km/hora. “Além disso, também passamos por limitações assistenciais, como falta de profissionais, dificuldades de conseguir ventiladores mecânicos (bloqueio da compra de 600 máquinas pelos EUA). Bem como a escassez de Equipamentos de Proteção Individuais (EPIs) e de medicamentos”, relata.
SUPERAÇÃO
Para o infectologista Guillermo Sócrates, assumir a direção de um hospital de campanha, bem como encarar um fato histórico, muda a vida de um gestor. “Sobretudo, foi superar o tempo e fazer o melhor com as condições disponíveis. Além de treinar uma equipe para lidar algo totalmente novo”, reforça. Em Goiânia, o Hospital de Campanha para o Enfrentamento ao Coronavírus (HCamp) foi inaugurado no dia 26 de março e até o dia 4 de junho já havia atendido mais de dois mil pacientes.
APRENDIZADO
Não só a doença mudou aspectos profissionais e pessoais dos médicos, como também tem trazido um legado de aprendizagem. “Aprendemos a ser humildes, pois o que se pensava em março, em maio já era diferente”, diz Laranjeira. Por exemplo, ele cita o grande número de casos de jovens e crianças internados, contrariando o que se pensava no início da pandemia. Ainda em seu relato, ele confessou que precisou fazer contato com mais de 700 médicos para compor a equipe do seu hospital de campanha. E se surpreendeu com o sentimento de solidariedade que tem despertado em todos. “Ouvi muitos colegas dizerem que não contavam com carga horária disponível. Mas que iam tentar encaixar em suas agendas. O seja, estamos imbuídos em um só propósito”. E Sócrates completa: “Poder ver a satisfação das pessoas curadas e levar um pouco de esperança em uma situação tão grave é a nossa maior recompensa”.
O PAPEL DOS HOSPITALISTAS
No momento em que a saúde enfrenta uma série de dificuldades, os dois médicos são unânimes: a atuação dos hospitalistas está tendo um papel de destaque dentro das instituições. Segundo Laranjeira, “os hospitalistas possuem uma visão ampla e têm sido fundamentais para driblar a carência de intensivistas”. Da mesma forma, Sócrates ressalta que o trabalho dos médicos que atuam junto ao modelo de Medicina Hospitalar garante o giro de leitos na enfermaria. Isso possibilitou à unidade atender uma maior demanda. “Por certo, sem estes profissionais é muito difícil o hospital caminhar”, diz.
Confira o que os participantes acharam da live da SOBRAMH:
Muito boa a live com os médicos Guilhermo e Rogério. Contribuiu muito para a clareza do entendimento de como aplicar os hospitais de campanha para otimizar o atendimento aos pacientes de Covid-19. Muito obrigado pela oportunidade.
Michel Cadenas, médico coordenador e intervencionista do SAMU, no Paraná
Achei muito qualificado, trazendo experiências de hospitalistas de diferentes partes do Brasil. Eles apontaram caminhos de qualificação dos modelos de gestão e de cuidado em hospitais de campanha especializados em Covid-19. Ficou claro nas falas como um cuidado bem estruturado e liderado por hospitalistas pode fazer diferença no tratamento desses pacientes. Além da necessidade que esses equipamentos funcionem com uma boa razão em custo-efetividade, necessitando ser adaptado a cada realidade estadual.
Tiago Trindade, professor de Medicina de Família e Comunidade, no Departamento de Medicina Clínica da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Ex-presidente da Sociedade Brasileira de Medicina de Família e comunidade (2014-2018).
Ao final dessa pandemia, vamos precisar registrar essas experiências, para que se tenha um conhecimento próprio do nosso país em montar estruturas hospitalares temporárias em momentos de crise, que podem acontecer novamente.
André Gusmão, coordenador da linha cirúrgica com Hospital Municipal de Salvador