Afirmação é do diretor da SOBRAMH, à frente da direção técnica do Hospital do Subúrbio (BA)
O diretor da Sociedade Brasileira de Medicina Hospitalar (SOBRAMH), Rogério Palmeira, ocupa o cargo de diretor técnico do Hospital do Subúrbio, localizado em Salvador (BA). Segundo ele, os hospitalistas terão papel de liderança no enfrentamento à COVID-19, dentro da casa de saúde em que atua. Hoje, a instituição conta com uma equipe voltada à Medicina Hospitalar com oito médicos 12 residentes.
“Nenhum sistema de saúde está preparado com número de infectologistas ou intensivistas para enfrentar essa crise. Assim, médicos como os hospitalistas, com preparo técnico-científico para o atendimento de pacientes graves, terão papel de liderança na nossa equipe assistencial”, destaca o professor Escola Bahiana de Medicina.
Plano de ação
O Hospital do Subúrbio foi uma das instituições escolhidas pelo governo baiano para ser referência no atendimento aos casos do novo coronavírus. Dessa forma, foi elaborado um plano de ação para receber o aumento da demanda, que passou desde o desenvolvimento de fluxos de atendimento, uso adequado dos Equipamentos de Proteção Individual (EPI’s), treinamento em ventilação mecânica, até preparação de novos leitos. “Agora, o desafio é o recrutamento de profissionais de saúde preparados para essa nova realidade”, afirma Palmeira.
Confira a entrevista com o diretor da SOBRAMH!
SOBRAMH – Em que momento se decidiu organizar o hospital para o aumento da demanda de pacientes?
Rogério Palmeira – O Hospital do Subúrbio, uma parceria-público privada desde sua inauguração, em 2010, foi um dos hospitais escolhidos pela Secretaria de Saúde para integrar a rede de hospitais referenciados aos pacientes graves de COVID-19. No presente momento, atendemos alguns pacientes na emergência, alguns casos internados, mas até agora sem confirmação. Então, desde o início da crise, começamos o processo de divulgação de informações e desenvolvimento de protocolos.
SOBRAMH – Como foi desenvolvido esse processo e que medidas foram tomadas?
RP – Podemos dividir em dois momentos o processo de preparação do hospital. O primeiro como hospital geral, quando esperávamos um aumento da demanda espontânea de modo geral, motivado pelo medo, coincidindo com a chegada da pandemia, com a transição de estações, com o início do outono e aumento de casos de síndromes respiratórias virais. Além da preparação da equipe técnica, foi realizado o desenvolvimento de fluxos de atendimento, providenciadas equipes assistenciais complementares e os Equipamentos de Proteção Individual (EPI’s), inclusive com protocolos de uso adequado e provisionamento desses equipamentos para o momento de maior demanda. Outra preocupação foi o treino em ventilação mecânica e manter número de equipamentos adequado. O segundo momento, em curso, foi a decisão de criar 118 novos leitos de terapia intensiva, dedicados, exclusivamente, à COVID-19, além dos 70 leitos já disponíveis. Dessa forma, estamos preparados para atendimento aos casos de COVID-19 e, no momento, a demanda está adequada ao nosso dimensionamento e estrutura. Aguardamos os novos 118 leitos ficarem prontos e o grande desafio é o recrutamento de profissionais de saúde preparados para essa nova realidade.
SOBRAMH – Como garantir que a comunicação seja eficaz nesse momento de crise?
RP – A comunicação entre profissionais, entre eles e os pacientes e familiares, já se constitui uma ferramenta de grande valor na prevenção de erros, no melhoramento de resultados assistenciais e na integração. E isso se reforça em um cenário permeado de medo e incerteza. Qualquer ruído na comunicação tem consequências desastrosas. Considero que a habilidade de comunicação deve ser treinada desde a graduação, lembrando que existem protocolos específicos de comunicação (SBAR, SPIKES, etc.) e que são de grande auxílio.
SOBRAMH – Como garantir a segurança aos profissionais que estão na linha de frente no combate à pandemia?
RP – Todos esforços envidados para garantir a segurança estão relacionados ao fornecimento dos EPI’s adequados a cada situação especifica de atendimento, ao treino no uso adequado e na retirada correta dos EPI’s para evitar a contaminação. Um grande desafio é a escassez crescente desse tipo de material.
SOBRAMH – Qual a importância do modelo hospitalista no enfrentamento a essa nova realidade da saúde?
RP – O Hospitalista é um médico de expertise em uma ampla gama de patologias e situações clinicas de gravidade. Nenhum sistema de saúde está preparado com número de infectologistas ou intensivistas para enfrentar essa crise. Assim, médicos como os hospitalistas, com preparo técnico-científico para o atendimento de pacientes graves, são de forte impacto para suprir essa carência de mão-de-obra. Na nossa instituição, os hospitalistas terão papel de liderança na equipe assistencial.