Experiências de médicos do Maranhão foram compartilhadas na live da SOBRAMH
Há dois meses atuando na linha de frente no combate ao novo coronavírus, o médico Gustavo Rodrigues afirma: “Não existe coragem sem medo”. Supervisor da residência de Clínica Médica no UDI Hospital, em São Luís (MA), ele é um dos profissionais de saúde que enfrenta a doença em uma dos locais que já teve o maior índice de casos no Brasil, a cada 100 mil habitantes. Fato que levou às cidades da região metropolitana a decretarem o isolamento social mais restrito, o chamado lockdown. E para falar sobre a experiência que está sendo vivida neste momento crítico da saúde, Gustavo e o coordenador da UTI Geral Adulto do UDI Hospital (Rede D’Or São Luiz), Alexandre Carvalho, participaram da segunda edição da live promovida pela Sociedade Brasileira de Medicina Hospitalar (SOBRAMH). O evento, programado para acontecer a cada 15 dias, foi realizado no início da noite desta segunda-feira, transmitido ao vivo, no canal da entidade no Youtube.
Confira aqui como foi a primeira live da SOBRAMH
Um dia de cada vez
A live foi conduzida pelo presidente da SOBRAMH, André Wajner, que abordou com os convidados não só o lado profissional, mas também como a pandemia afeta a vida pessoal de cada um. Gustavo conta que a sua rotina mudou completamente. Ele também atua no Hospital Universitário da Universidade Federal do Maranhão, acumulando muitas horas de trabalho devido ao aumento da demanda de pacientes e o adoecimento de colegas. O resultado foi uma lesão no nariz, conhecida como escara, e febre devido à desidratação. “A gente tem que pensar que uma hora isso vai passar. Portanto, devemos viver um dia de cada vez”, diz.
Lockdown
A Região Metropolitana de São Luís viveu o período de isolamento rígido de 5 a 17 de maio. Com intuito de achatar a curva de casos e reduzir o contágio, a medida evitaria o colapso na saúde da capital. De acordo com Alexandre, que também é secretário geral da SOBRAMH, “o aumento progressivo de casos aconteceu de uma maneira abrupta. Sendo assim, acredito que o lockdown tenha sido uma decisão acertada. Isso porque a epidemia atingiu em cheio tanto o sistema público como o privado”. Gustavo reforça que o Maranhão foi um dos últimos estados a registrar a doença, mais de 20 dias após o primeiro caso, em São Paulo. “Muito rapidamente o sistema de saúde se viu pressionado. Agora, mesmo havendo um declínio de casos na capital e região, os casos estão crescendo no interior”, comenta.
Experiência
Conforme Gustavo, a troca de experiências tem sido a principal arma no combate ao vírus. “Conseguimos aprender muitas coisas com pessoal de São Paulo e Rio de Janeiro, primeiros estados a sofrerem com a pandemia. Assim, espero que a nossa experiência também possa agregar aos colegas de demais regiões, para que a gente possa fazer a diferença em mais vidas, da melhor maneira possível”, afirma. Além disso, acrescenta: “Desta forma, foi muito prazeroso poder compartilhar informações por meio da iniciativa da SOBRAMH. Ou seja, vamos construindo o conhecimento”.
Longe dos filhos
Alexandre confessa que há mais de 60 dias não vê os filhos, que estão no Rio de Janeiro. “Meu filho fez 18 anos e eu não pude abraça-lo”, confessa. Segundo ele, o trabalho tem sido extenuante. Por exemplo, a necessidade de tirar e colocar os Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) muitas vezes ao dia, em cada momento que era necessário entrar nos quartos. “Essa nossa participação na live da SOBRAMH também foi um momento de colocar pra fora o que estamos vivendo nesses últimos meses. Uma verdadeira terapia pra falarmos um pouco e aliviar as tensões”, destaca.
Confira o que os participantes acharam da live da SOBRAMH
“Achei a live muito bem planejada com profissionais altamente qualificados e conhecedores do tema proposto. A moderação foi muito bem conduzida. Além disso, o alerta sobre os cuidados/medidas sanitárias e a situação enfrentada no Maranhão demonstram a relevância do planejamento e Gestão da saúde populacional”
Ana Giovanoni, CEO do Grupo Giovanoni
“Achei a live muito proveitosa e esclarecedora. Gostaria que houvessem mais. Parabéns à SOBRAMH”
Diego Leopoldo Pinheiro, médico hospitalista no HNSA de Camaquã (RS)
“A live reflete o trabalho ímpar que a SOBRAMH tem realizado e sua importância para o país. Excelentes estratégias de enfrentamento à pandemia foram apresentadas por médicos que estão na linha frente em um dos Estados mais afetados pelo Covid, no país. O compartilhamento de experiências, inclusive aquelas da esfera emocional, nos faz repensar o quanto essa fase que estamos vivendo tem refletido no psicológico, fazendo que tenhamos ações e muitos esforços para com o enfrentamento. Parabenizo a todos da SOBRAMH pelo trabalho. Aguardo as próximas!”