Médico afirma que hospitalistas garantem qualidade assistencial e segurança ao paciente
O diretor da Sociedade Brasileira de Medicina Hospitalar (SOBRAMH), o cardiologista Claudio Nunes, assina artigo que destaca a importância da Medicina Hospitalar em meio à pandemia. Segundo ele, os profissionais que atuam junto ao modelo hospitalista possuem alta capacidade e performance diante da atual situação que vivemos na saúde.
Confira o artigo!
“O médico hospitalista é um agente de eficácia, eficiência e efetividade na gestão assistencial”
Dr. Cláudio M. S. Nunes*
Com a epidemia-pandemia em curso, que tanto afetou a mobilidade no país, foi gerada ruptura profunda em relações interpessoais dentro e fora dos ambientes relacionados aos cuidados em saúde. Surgiu a insegurança inesperada e compulsória em mudança de atitude. Criou-se um ecossistema de saúde populacional exponencialmente diferente do padrão anterior, de elevado risco à saúde física e mental, não só em nosso país como também em todo o mundo.
Diante de situações como essa que estamos vivendo, gerou-se a necessidade imperativa de mudança com decisões em tempo real, em que cada minuto ou até segundo não pode ser desperdiçado. Nessas horas, o que se espera é alta capacidade e performance comprovadas com modelo inovador e empreendedor, no qual o pensamento fora da caixa — antes blindado por modelos herméticos de gestão — passa a exigir inovações e, até mesmo, reinvenções. Dessa forma, somente com profissionais considerados “desvios positivos” (Positive Deviants) se poderá chegar ao sucesso.
Hospitalistas
O papel de médicos hospitalistas, assim como de enfermeiros hospitalistas, tem se baseado em vertentes de atuação de assistência diferenciada. Especialmente em qualidade e segurança dos pacientes, liderança e educação das equipes multiprofissionais, alinhando estratégias junto aos gabinetes de crise, constituídos para enfrentar esta epidemia. Além disso, realiza pesquisa e análise permanente de indicadores assistenciais, medicina baseada em evidências, assim como conta com a capacidade de executar muitos procedimentos à beira do leito, que aceleram bastante o giro de leitos hospitalares, aumentando a quantidade de vagas funcionais dentro de um hospital.
Diante de situações como essa que estamos vivendo, gerou-se a necessidade imperativa de mudança
O médico hospitalista é um agente de eficácia, eficiência e efetividade na gestão assistencial. Isso por que ele atua nas diversas transições de cuidado, com destaque para os momentos contínuos de instabilidades clínicas, em geral despercebidas e extremamente deletérias.
Medicina Hospitalar
Entre os exemplos consistentes da atuação, dentro do modelo de Medicina Hospitalar, está o controle de desperdícios, em especial de tempo, em todos os momentos da verdade assistenciais. Como exemplo, podemos citar em interconsultas de especialistas, solicitação de exames, diagnósticos não baseados em valores preditivos, sensibilidade, especificidade e acurácia, aplicação irregular de protocolos clínicos de instabilidade clínica. Tudo isso evitando nódoas dentro do processo assistencial, como as frequentes infecções adquiridas em hospitais.
Equipe
Uma modalidade com essa característica é a base da atuação da Medicina Hospitalar. Portanto, desafios agrupando os melhores profissionais das diversas categorias funcionais como um time, inteiramente dedicado no ambiente da governança clínica. Time esse sempre comprometido com a qualidade do atendimento ao paciente, sua experiência e segurança, rompendo com modelos tradicionais inadequados a enfrentar situações como a que estamos sendo desafiados.
Foco no paciente
Para contextualizar, vale observar que, num ambiente hospitalista, o foco é integralmente direcionado ao paciente. Isso ocorre em todas as variáveis que podem afetar seus desfechos e riscos clínicos, totalmente envolvidos com as estratégias organizacionais de gabinetes de crise, conferindo apoio integral nos pontos de atenção no “chão de fábrica hospitalar”, com modelos enxutos de cuidados assistenciais (Lean Healthcare).
Os melhores profissionais das diversas categorias funcionais como um time
A consequência inexorável do modelo hospitalista é um verdadeiro combate a problemas de comunicação nas transições de cuidado, entre os diversos setores internos e externos do hospital, com a efetiva parceria em co-manejos clínico-intensivistas, clínico-clínico, clínico-cirúrgico. Os quais sempre alicerçados na base que um profissional com tais características será dedicado, integralmente, a essa missão de salvar vidas. Logo, economizando recursos devido à referida capacidade de substituir muitos especialistas. Isso inclui a capacidade de executar alguns exames como ultrassonografia à beira do leito, eco cardiografia, ultrassom pulmonar, com os respectivos procedimentos invasivos.
Novos paradigmas
O modelo tradicional de assistência médica definiu, durante muitos séculos, um paradigma fragmentado que hoje precisa ser substituído por um outro. Isso de forma integral e irreversível, que siga o modelo científico de ruptura desenvolvido por Thomas Kuhn, no século XX. Este modelo inovador e disruptivo que a Medicina Hospitalar representa se impõe em caráter de urgência em momentos de escassez, uso inadequado de intervenções diagnósticas e terapêuticas dispersas, desperdícios enormes. O objetivo é romper com modelos anacrônicos despreparados para situações de crise, com fundamentação científica na modelagem schumpeteriana de inovação desenvolvida a aproximadamente um século atrás, chamada Destruição Criativa.
* MÉDICO CARDIOLOGISTA, DIRETOR TÉCNICO DO HOSPITAL METROPOLITANO DE URGÊNCIA E EMERGÊNCIA/ PRÓ-SAÚDE (HMUE), EM ANANINDEUA/PA). COORDENADOR MÉDICO DO PROJETO DE MEDICINA HOSPITALAR DO HMUE, SECRETÁRIO-GERAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE MEDICINA HOSPITALAR (SOBRAMH), CONSULTORIA EM PROJETOS DE ACREDITAÇÃO HOSPITALAR E PROFESSOR CONVIDADO DO INSTITUTO COPPEAD/UFRJ. DOUTORANDO EM ADMINISTRAÇÃO PELA UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL (RS).