SER HOSPITALISTA

Hoje, (06/03) nos Estados Unidos, é o National Hospitalist Day. Uma data que mostra a importância destes profissionais para o sistema de saúde norte americano, gerando um cuidado com maior pertinência e menor desperdício.
E o que uma data norte americana tem a ver com o Brasil?
Tive contato com o modelo hospitalista e me tornei um em 2013. Já são 12 anos atuando como hospitalista em diversos cenários. Olhando para trás, seria impossível imaginar onde o modelo hospitalista me levaria. Na época, não foi uma escolha fácil. Estava muito bem estabelecido em grandes hospitais de Porto Alegre como médico. No entanto, sempre insatisfeito por atuar em um modelo assistencial com um enorme desperdício e que oferecia um cuidado em termos de qualidade e segurança, muito aquém. Um modelo fragmentado, não coordenado, que claramente deveria ser melhorado, mas como?
Foi nesse cenário que aceitei o desafio de ser hospitalista. Descobri uma nova forma de atuar que melhorou muito a minha prática e a qualidade do meu cuidado. No entanto, não apenas isso. O modelo hospitalista me desenvolveu muito como profissional médico, mas também me desenvolveu como pessoa e como gestor. Foi sendo hospitalista que descobri o mundo da gestão e me apaixonei por ele. Fui então, de hospitalista a coordenador de serviço. De coordenador de serviço a diretor técnico. De diretor técnico a empreendedor, educador e gestor em saúde.
Desde 2018, trabalho apenas com gestão em saúde e educação, sem assistência direta a pacientes. E foi sendo gestor, que o impacto de ser hospitalista me levou a situações inimagináveis. Conduzi um projeto de Estado por 4 anos, reduzindo durante a pandemia, em uma rede pública de hospitais, em 20% o tempo médio de permanência de pacientes, tendo um impacto gigantesco em promover acesso a saúde para a população.
Com esta experiência, tive a oportunidade única de palestrar nos Estados Unidos em 2023 no evento da Mayo Clinic, contando a experiência brasileira com o modelo hospitalista. Isso no berço onde o modelo nasceu. Em 2013, quando aceitei o desafio de ser hospitalista, nunca poderia imaginar onde o modelo me levaria.
Após essa breve introdução, fica a pergunta. Afinal, o que é ser hospitalista?
Muitos me perguntam se medicina hospitalar será uma área de atuação ou especialidade. Como presidente da Sociedade Brasileira de Medicina Hospitalar desejo que sim. Seria um reconhecimento justo a um grupo de profissionais que possuem muitas habilidades e produzem um impacto muito positivo no sistema de saúde. No entanto, um diploma está longe de ser o que define um hospitalista. Trazendo meus anos de experiência como hospitalista e a frente de implementações do modelo hospitalista em - quase - todo o Brasil, aqui estão os 3 pilares que para mim, definem um hospitalista, sendo o último, de longe, o mais importante:
1 - SER UM PROFISSIONAL EXEMPLAR
Um hospitalista é, antes de tudo, um ótimo profissional do ponto de vista técnico na sua área. Seja na medicina, enfermagem, ou alguma das áreas da equipe multidisciplinar, é crucial que o conhecimento técnico e treinamento dos profissionais na sua área de atuação desenvolva estes profissionais rumo a excelência, afinal, a assistência é o primeiro pilar do modelo hospitalista em qualquer instituição.
2 - DESENVOLVER HABILIDADES GERENCIAIS
Hospitalistas, para além de serem profissionais tecnicamente excelentes, precisam buscar conhecimentos não trabalhados comumente nas graduações e residências na saúde. Soft skills, entendimento da estrutura do sistema de saúde e como os diferentes níveis se relacionam, conhecimento sobre transições de cuidado, ferramentas de qualidade e segurança assistencial, metodologias ágeis, lean healthcare, gestão por processos, indicadores em saúde entre outros tópicos devem fazer parte do arsenal de conhecimento de um profissional hospitalista. Afinal, é uma cabeça assistencial + gerencial que forma um verdadeiro hospitalista.
3 - MENTALIDADE
Ponto mais importante, no entanto, é trabalhar a mentalidade. Um hospitalista precisa ter uma mente aberta a novos processos, novos fluxos de trabalho. Mentalidade rígida, fixa, não combina com ser um hospitalista. O conformismo, a fala do “sempre trabalhei assim” passa longe do conceito da medicina hospitalar. Hospitalista deve possuir uma mentalidade de mudança, de melhoria contínua, de aprendizado contínuo. Esse ponto, sem dúvida, é o que mais diferencia profissionais hospitalistas.
E respondendo à pergunta inicial do artigo: O que uma data norte americana tem a ver com o Brasil? A comemoração do National Hospitalist Day nos EUA serve como um lembrete da importância crescente dos hospitalistas também no Brasil, incentivando a adoção de práticas que elevem a qualidade e eficiência dos serviços hospitalares no país.
Se o caminho é fácil? Claro que não. No entanto ser um hospitalista é muito gratificante e abre portas incríveis no mercado da saúde. Então, feliz dia do Hospitalista!
Fabricio Fonseca
Presidente da SOBRAMH
CEO da IMPROVE
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